Como anunciado, decorreu no passado dia 12 no auditório da Biblioteca Municipal de Fafe o lançamento da obra A Terra do Chiculate – relatos da emigração portuguesa, de Isabel Mateus. Como previamente divulgado, a apresentação esteve a cargo de Nathalie Oliveira, autarca de Metz, França. A sessão contou ainda com a presença e participação de Maria da Conceição Tina Melhorado - “a menina da fotografia” do catálogo da exposição de Gérald Bloncourt “Por uma vida melhor” – e uma sala cheia, com um público que se deslocou de várias cidades do Minho para assistir ao lançamento.
Nathalie Oliveira, luso-descendente, apresentou a obra não só do ponto de vista literário, mas também num tom mais confessional, a sua perspectiva enquanto luso-descendente. Neste sentido, mostrou-se atenta e informada sobre o período da história recente do nosso país, sobretudo os anos 60 e 70, décadas nas quais se registou o maior número de saídas de emigrantes que partiram clandestinamente de Portugal para França. Referiu também a importância de conhecer a história individual, as circunstâncias em que pais e avós emigraram, para melhor entender o presente e sobretudo, compreender a própria identidade, orgulhosamente.
Maria da Conceição Tina Melhorado, a ‘menina da fotografia’, falou sobre este período, que foi vivido na clandestinidade, na sua maioria nos bidonvilles (bairros de lata) e que é ainda muito recente, necessitando portanto de algum distanciamento. Passados 50 anos, talvez tenha chegado o momento de olhar, de escrever sobre, para melhor compreender e respeitar aqueles que tudo arriscaram, inclusive a própria vida, em busca de melhores condições de vida. Curiosamente, estas partidas, tinham maioritariamente na sua origem, o sonho de dar uma vida melhor aos filhos. Tina Melhorado assume-se assim – como alguém que dá voz às crianças cujos pais arriscaram tudo para lhes proporcionar tudo. Hoje, vive em Coimbra e é docente do ensino secundário – tem duas filhas e um filho com partilhou a sua história, e a quem pode proporcionar tudo. Falou-nos das suas memórias, do quanto gosta de chocolate, principalmente negro, que associa à viagem clandestina para França, pois era-lhe dado pelo passador, para que não fizesse barulho e aguentasse a viagem.
Contou ainda a história da boneca, com a qual o Gérald Bloncourt a fotografou em St. Dennis em 1966, e que afinal foi a promessa cumprida, a prenda que a mãe lhe deu para que ela partisse sem dizer nada a ninguém, em particular ao vizinho, que era polícia. Uma partilha grandiosa da Tina Conceição, um momento que nos explica afinal algumas das perguntas e inquietações que ficaram da exposição de Gérald Bloncourt “Por uma vida melhor”.
Isabel Mateus agradeceu a todos aqueles que contribuiram para a edição e o lançamento do livro e falou então do seu trabalho literário que contém pessoas e histórias de um tempo e de lugares que importa trazer à luz, em especial porque unem percursos biográficos de mais do que uma geração, numa tentativa de compreensão mútua. No final da sessão vários foram ainda os contributos dos participantes, nomeadamente daqueles com histórias de vida em contexto de emigração. Foi discutido o papel dos passadores, figura controversa do ‘salto’ com diferentes níveis de acção em função das regiões onde actuavam – Bragança ou Fafe ou Guimarães, Viana do Castelo ou Melgaço, entre outras eram diferentes; a construção de Paris, as razões da partida, a ditadura e a Guerra colonial, entre outros testemunhos de cariz mais pessoal e intimista. Um belo serão que se prolongou pela noite dentro.
No final, Isabel Mateus deu ainda uma entrevista para o Canal TV, que tem realizado um grande trabalho de cobertura das actividades culturais da região – em divulgação agora também d’A Terra do Chiculate – relatos da emigração portuguesa.
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