"A emigração vista por escritores portugueses: Quando os portugueses partiam a salto"
por Isabel Vieira – Universidade da Sorbonne, Paris
'O salto representou para muitos portugueses a única via possível para sair de Portugal salazarista e caetanista. "O salto" ou "passaporte de coelho" inspirou o cinema francês ("O salto" de Christian de Chalonge (1967), e documentários "Les gens do salto" de José Vieira.
A palavra "emigração" irritava a censura e qualquer referência ao fenómeno não era bem-vinda. Os escritores, que na maioria tinham simpatias à esquerda, eram homens a banir das linhas dos jornais. Escrever sobre a emigração e sobre "o salto" era arriscado, por esse motivo a literatura sobre "o salto" não se desenvolveu antes do 25 de Abril, excepto um romance de Nita Clímaco 'A salto' (1967) que foi autorizado. Esta situação permite uma interrogação sobre as condições da saída deste livro, enquanto outros textos como 'Histórias dramáticas da emigração' de Waldemar Monteiro ou 'Emigração: fatalidade irremediável' foram proibidos.
Sabendo que em Portugal a censura controlava a imprensa e que não eram bem-vindos temas como “emigração”, críticas ao sistema político, social ou económico do país, todos os artigos publicados ou livros que saíram nos anos 60 (auge da emigração clandestina) retiveram toda a nossa atenção aguçando a nossa curiosidade. A censura prévia amordaçava os jornais mas também os livros, inclusivamente, após estarem em exposição e à venda nas livrarias, desencadeando situações perversas, ambíguas, arbitrárias, incompreensíveis, ou mesmo surpreendentes, obrigando os escritores e jornalistas à auto-censura.
José Cardoso Pires denunciando a censura afirmou que ela “fez-nos viver num país alienado”, Maria Teresa Horta ficou “marcada para sempre” e Luiz Francisco Rebello foi “civilmente assassinado”. Para mais, Manuel Ramos, redactor do Jornal de Notícias responde à pergunta “A emigração também era tabu para Salazar?”
Só foi em período de liberdade que os romances com a temática da viagem clandestina além Pirenéus foram publicados: 'Os dramas da emigração clandestina' ficou numa gaveta (escrito em 1963) e saiu em 1975, 'Cinco dias, cinco noites', foi também redigido antes da revolução, mas publicado em 1975, e 'Eis uma história' data de 1992.'
(...)
Qual é a visão dos escritores? O que é que as obras desvendam? Poderá encontrar respostas a estas e outras questões sobre a literatura e os escritores antes da Revolução dos Cravos no texto integral aqui.
E aqui um extenso levantamento de 900 livros censurados pela polícia política durante o Estado Novo, do investigador José Brandão
'O salto representou para muitos portugueses a única via possível para sair de Portugal salazarista e caetanista. "O salto" ou "passaporte de coelho" inspirou o cinema francês ("O salto" de Christian de Chalonge (1967), e documentários "Les gens do salto" de José Vieira.
A palavra "emigração" irritava a censura e qualquer referência ao fenómeno não era bem-vinda. Os escritores, que na maioria tinham simpatias à esquerda, eram homens a banir das linhas dos jornais. Escrever sobre a emigração e sobre "o salto" era arriscado, por esse motivo a literatura sobre "o salto" não se desenvolveu antes do 25 de Abril, excepto um romance de Nita Clímaco 'A salto' (1967) que foi autorizado. Esta situação permite uma interrogação sobre as condições da saída deste livro, enquanto outros textos como 'Histórias dramáticas da emigração' de Waldemar Monteiro ou 'Emigração: fatalidade irremediável' foram proibidos.
Sabendo que em Portugal a censura controlava a imprensa e que não eram bem-vindos temas como “emigração”, críticas ao sistema político, social ou económico do país, todos os artigos publicados ou livros que saíram nos anos 60 (auge da emigração clandestina) retiveram toda a nossa atenção aguçando a nossa curiosidade. A censura prévia amordaçava os jornais mas também os livros, inclusivamente, após estarem em exposição e à venda nas livrarias, desencadeando situações perversas, ambíguas, arbitrárias, incompreensíveis, ou mesmo surpreendentes, obrigando os escritores e jornalistas à auto-censura.
José Cardoso Pires denunciando a censura afirmou que ela “fez-nos viver num país alienado”, Maria Teresa Horta ficou “marcada para sempre” e Luiz Francisco Rebello foi “civilmente assassinado”. Para mais, Manuel Ramos, redactor do Jornal de Notícias responde à pergunta “A emigração também era tabu para Salazar?”
Só foi em período de liberdade que os romances com a temática da viagem clandestina além Pirenéus foram publicados: 'Os dramas da emigração clandestina' ficou numa gaveta (escrito em 1963) e saiu em 1975, 'Cinco dias, cinco noites', foi também redigido antes da revolução, mas publicado em 1975, e 'Eis uma história' data de 1992.'
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Qual é a visão dos escritores? O que é que as obras desvendam? Poderá encontrar respostas a estas e outras questões sobre a literatura e os escritores antes da Revolução dos Cravos no texto integral aqui.
E aqui um extenso levantamento de 900 livros censurados pela polícia política durante o Estado Novo, do investigador José Brandão
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