21.2.10

“Le passeur” - uma peça de museu

© Cristina Guerra Contemporary Art
A instalação vídeo "Le Passeur" (2008), de Filipa César (n. 1975) foi escolhida por Sérgio Edelsztein, director do The Center for Contemporary Art de Telavive, para expor na zona especial de comissariado Solo Projects na Feira de Arte Contemporânea ARCO. Pela mão da galerista Cristina Guerra “Le passeur” foi vendida (15 mil euros) a um coleccionador português e a um museu espanhol, o Centro Galego de Arte Contemporânea, dirigido pelo portuense Miguel von Haffe Pérez .

O vídeo tem uma tiragem de cinco exemplares, tendo o primeiro sido adquirido pela Ellipse Foundation Contemporary Art Collection.

A obra “Le Passeur” é constituída pela projecção de dois filmes.
Um deles apresenta os relatos de quatro pessoas envolvidas nos processos de emigração clandestina, por motivos políticos, entre 1971 e 1975.
O outro transmite a experiência da passagem de um afluente do rio Minho que, no último século, foi palco de várias actividades clandestinas de fronteira. Cada um dos filmes é projectado numa das faces de um mesmo ecrã.

"Europa"

© Carlos No
Trânsito Proibido # 6, 2009
Sinal de trânsito em alumínio

© Carlos No
Trânsito Proibido # 9, 2009
Sinal de trânsito em alumínio

A galeria Arthobler em Lisboa tem patente a exposição "Europa" de Carlos No, artista cuja obra plástica se caracteriza pela expressão de uma preocupação crítica face a temas relacionados com o desrespeito dos Direitos Humanos nomeadamente no que se refere a situações de injustiça, ausência de liberdade, exploração e abuso de Poder.

Recorre a imagens, textos e objectos que utiliza mediante um dispositivo de confrontação de sentidos, como forma irónica de transmitir o seu ponto de vista sobre os assuntos em questão, explorando conceitos como os de Poder, Justiça, Exclusão, Identidade. in
http://www.carlosno.com

"Europa" remete-nos para o universo migratório contemporâneo e para além destes sinais de trânsito em alumínio alusivos à viagem clandestina, uma outra obra desta exposição é constituída por um conjunto de caixas de correio e tem por tíulo "Champigny" evocando vivências da emigração portuguesa nos anos 60 e 70 para França, maioritariamente clandestina.

18.2.10

A viagem



Nos finais do século XIX é construído o porto de Leixões, na actual cidade de Matosinhos, distrito Porto. Os principais portos usados pela emigração portuguesa eram os das cidades de Lisboa, no rio Tejo e do Porto, no Rio Douro.

Para chegar ao Rio de Janeiro, até à década de cinquenta, a viagem era feita em barco à vela demorando cerca de 50 dias. A partir de 1851, usando o vapor, esta viagem passou a demorar apenas cerca de 24 dias. Se o vapor não fizesse qualquer escala, a viagem poderia fazer-se em 15 dias, de Lisboa ao Rio de Janeiro.

A emigração, na primeira metade do século XIX, estava limitada aos que podiam suportar o financiamento da viagem, cujo valor global era aproximadamente de 33$415 réis.
Para se entender a dimensão relativa desta importância, apresentamos como referência a "jorna" ou "jeira" salário diário de um trabalhador rural no valor de $160 réis, sendo necessários cerca de 208 dias de trabalho para financiar a viagem para o Brasil.
Assim, se hoje o mesmo trabalho diário corresponder, no mesmo contexto, a cerca de 40 Euros, o custo da viagem rondaria os 8 320 euros.

Face às despesas da viagem, estamos perante um impedimento da emigração generalizada, o que explica a emigração clandestina e a selectividade da emigração aos que tinham capital disponível ou a possibilidade de recorrer ao crédito. in www.museu-emigrantes.org

8.2.10

A casa II


Créditos fotográficos Luisa Langford

A casa do "Brasileiro" de "Torna - Viagem" constituiu uma das representações mais evidentes desse retorno, quer na estrutura e fachada das edificações, quer nas novas demarcações internas, dividindo espaços e pessoas, evidenciando novas hierarquias e novas fronteiras sociais.
As inovações arquitectónicas e decorativas da casa do Brasileiros representam, na maior parte dos casos, uma reprodução ‘desfocada’ de soluções formais de uma arquitectura ‘elegante’ adoptada na construção residencial brasileira a partir de meados do século XIX mercê da actividade de arquitectos e companhias de construção europeias: um modelo onde pontuam influências da casa colonial vitoriana, soluções formais afrancesadas, misturadas com algum revivalismo de cariz italiano".

Nesta perspectiva, as edificações remetem para um quadro de leitura urbana da “Casa” que poderá ser categorizadas em três tipos: o palácio, a casa apalaçada e o palacete.
“O Século XIX é a época em que se verifica, por muitos lados, o retorno do emigrante português enriquecido no Brasil, que constitui um poderoso factor de difusão cultural, que não tem sido devidamente considerado; muitos elementos que se encontram simultaneamente em Portugal e no Brasil, não são possivelmente formas portuguesas que foram levadas para uma terra de povoação recente, mas pelo contrário, produtos elaborados nesse país de ricos contactos e relações de culturas, e trazidos para Portugal pelo veículo do emigrante de retorno, que no seu desejo de ostentação, repete na sua terra aquilo que aprendeu onde se fez grande.” Ernesto Veiga de OLIVEIRA, Fernando GALHANO, Casas Esguias do Porto e Sobrados do Brasil, Recife, Pool Editores S/A, 1986, p. 28

As representações feitas através da localização, da arquitectura e da decoração das fachadas de casas constituem alguns dos elementos que configuraram a personagem do “Brasileiros” e a teatralidade do seu tempo.

Estas casas apresentam-se rebocadas e caiadas, ou cobertas com azulejos, estando presentes as cores do Brasil, com beirais de faiança, varandas estreitas com guardas de ferro forjado ou fundido, platibandas decoradas, lanternins, clarabóias e estatuetas, átrios decorados com azulejo, escadarias de madeiras preciosas, tectos de estuque, portas e janelas altas encimadas por bandeiras com vitrais coloridos, lustres de cristal e delicados móveis e porcelanas.

3.2.10

A casa

O Brasil, na segunda metade do século XVIII e durante o século XIX foi o lugar propício para a acumulação de fortuna e o laboratório para o que veio a ser a ampliação de pequenos e modestos Solares do Minho, a construção das novas vilas e a ampliação das cidades.

Em Portugal, mas com particular destaque para as cidades do Norte do país, permanecem vivas inúmeras evidências materiais e simbólicas da emigração para o Brasil.

O Norte de Portugal é o lugar das principais evidências da saída e do retorno do “Brasileiro”, observando-se as representações desse tempo, particularmente, nessa personagem e nas casas, dado que, com os primeiros lucros do Brasil, o emigrante com sucesso, regressava à terra para ampliar a casa mãe ou construir uma nova e “cobrir de arrecadas as irmãs queridas e a continuar, aqui, a vida laboriosa que nas terras do Brasil foi a sua glória”. (Figueirinhas, 1900)

O “Brasileiro”, originário de uma classe média e média alta rural, incorpora nos contactos cosmopolitas das cidades do Brasil e das permanentes viagens pelas capitais estrangeiras, os novos sentidos da urbanidade e os símbolos legitimadores de poder que faz transportar para as cidades e vilas do Minho.

Este retorno reflectiu-se na arquitectura, urbanismo e na industrialização do país, provocando a aceleração da actividade comercial, afirmando-se o “Brasileiro” e seus descendentes como constituintes de uma classe burguesa que se envolve activamente na vida pública em tempo de transformação de regime. na plataforma do Museu