Sabemos que cerca 15 000 portugueses terão embarcado para o Rio de Janeiro, em 1808, acompanhando o Príncipe D. João VI. Instalaram-se no Rio de Janeiro e, como seria de esperar, constituiriam a elite política, administrativa, militar, judicial e académica de Portugal, tendo saído famílias completas que circulariam nas proximidades da família real e da corte, sendo o momento descrito como repentino, mal planeada e caótica.
Já entre 1855 e 1914 emigraram para o Brasil 1 296 268 portugueses e, do Município de Fafe, entre 1834 e 1926, cerca de 8722.
Na literatura encontramos pela mão de, por exemplo, Ferreira de Castro em "Emigrantes" (1928) uma descrição interessante desta realidade de finais do século XIX e início do século XX.
"Em todas as freguesias das redondezas, havia o mesmo anseio de emigrar, de ir em busca de riqueza e continentes longínquos. Era um sonho denso, uma ambição profunda que cavava as almas, desde a infância à velhice.
O Oiro do Brasil fazia parte da tradição e tinha o prestígio duma lenda entre os espíritos rudes e simples. Viam-no reflorir nas igrejas, nos palacetes, nas escolas, nas pontes e nas estradas novas que os homens enriquecidos na outra margem do atlântico mandavam executar. Viam-no erguer-se, refulgente, ofuscante, em moedas do tamanho do sol ao fundir-se na linha do horizonte, precisamente para os lados onde devia ficar o país maravilhoso. E nenhuma esperança de grande prosperidade havia que não fosse cimentada com esse oiro que lá longe brotava, ininterruptamente.
Registavam-se até desalentos, pouca perseverança no trabalho da terra nativa, porque ninguém tinha fé, ninguém, em que esta viesse a compensar desgostos e canseiras. Palavra mágica, o Brasil exercia ali um sortilégio e só a sua evocação era motivo de visões esplendorosas, de opulências deslumbrantes e vidas liberadas. Sujeitos ao ganha-pão diário, sofrendo existência mesquinha, os lugarejos sonhavam redimir-se, desde as veigas em flor ao dorso das serranias, pelo oiro conquistado no país distante.
Aquela ideia residia dentro do peito de cada homem e era orgulho implacável até nos sentimentos dos mais agarrados ao terrunho. Vinha já dos bisavós, de mais longe ainda; coisa que se herdava e legava, arrastando-se pela vida fora como um peso inquietante. Todas as gerações nasciam já com aquela aspiração, que se fazia incómoda quando não se realizava.
Acocorava-se no canto da alma, como talismã, usável em momentos de desafio à sorte, ou como um bordão, para os instantes de soluções desesperadas."
in "Emigrantes" de Ferreira de Castro